Mudança para o Ensino da Língua Portuguesa
Compreender, praticar e produzir
Na entrevista de seleção do PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, me deparei com uma pergunta, até então nunca feita à mim, nem mesmo por meus queridos professores das disciplinas de Língua Portuguesa do curso de Letras da UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Jequié. A pergunta feita foi: “O que é ensinar Língua Portuguesa?”. Desde aquele dia este questionamento me acompanha como também segue todos os discentes selecionados no programa.
Tentando buscar a resposta à esta pergunta, que passou a perturbar a nossa mente, retomamos algumas leituras e descobrimos outras, dentre elas temos nos deleitado nas propostas da discussão sobre a língua feita por Marcos Bagno, Mário Perini, Travaglia, Geraldi e Kato. Com estes estudos parece que estamos desvendando a questão. Consideramos que ensinar Língua Portuguesa é ensinar a ler e a escrever, ou seja, despertar no sujeito a competência comunicativa através de textos orais e escritos. Podemos dizer que o ensino da língua deve ser voltado a dois objetivos usar a língua e saber a respeito dela.
A polêmica surgida em nosso país mês passado, em torno da introdução da discussão da variedade lingüística em um capítulo do livro didático editado pelo MEC, é a prova de que o objetivo do ensino da Língua Portuguesa ainda não foi compreendido na nossa sociedade, pelo menos como propõe Geraldi e o PIBID. Marcos Bagno deixou isso claro no programa Observatório da imprensa da TV Brasil, em que se discutiu a questão polêmica do livro, quando ele repetiu indiretamente a pergunta que nos acompanha e confessou que há no nosso país um desconhecimento do que seja ensinar o português.
Confundir o ensino da gramática com o ensino da língua é uma prática que tem sido repetida há anos e é por isso que ainda surgem polêmicas como estas. Perini vai dizer que “a gramática diz como a língua deveria ser e não como a língua é de fato”, por isso é inadmissível para os gramatiqueiros aceitar que um livro de português mostre a língua como ela é. E se um simples capítulo que aborda sobre a variedade linguística causa tanto medo, ameaça e equívocos, compreendemos que mais do que nunca devemos continuar repensando o ensino da língua no nosso país, pois ele não anda tão bem.
Considero a atuação do PIBID no Instituto de Educação Régis Pacheco – IERP, como uma forma de repensar o ensino da língua. Isto se dá através das oficinas, oferecidas aos alunos da 2ª série do Ensino Médio, que tentam colocar em prática o uso da língua e o conhecimento da mesma através da construção de textos orais e escritos. Assim, tentamos desmistificar o conceito de que estudar língua é estudar gramática. Nossa proposta é o uso da gramática a serviço do texto.
Começamos a receber os textos escritos, dos alunos e agora mais uma pergunta surge para nos atormentar: como avaliá-los? Ainda não temos a resposta. Mas, o que sabemos por enquanto, é o que não devemos fazer com estes textos. Com toda certeza grifar os erros ortográficos e de concordância não é nossa proposta, pois esta prática simplesmente reafirma o que o professor de português não deve ser, caçador de “erros”, pois a sua prática deve se identificar muito mais com o exercício da pesquisa do que com a dinâmica de “erros e acertos” tão enfatizados nas aulas de Língua Portuguesa e reforçados por setores preconceituosos da sociedade.
Para se realizar um trabalho como este é necessário antes de mudar a prática, mudar a compreensão do objetivo do ensino da língua. Acredito que este é um passo para que os alunos comecem a compreendê-la como um objeto de pesquisa e comecem a perceber a sua função social. Talvez no Brasil, seja necessário mudar a compreensão (como fizemos), a prática (como estamos fazendo) e depois propor o material didático (como pretendemos).
Glauce Souza Santos (Pibideira do Subprojeto: A formação do professor de Língua Portuguesa. UESB)
Reportagem mostrada pela rede Globo sobre a livro didático: http://www.youtube.com/watch?v=lg-nl-2a7tU
Debate com Marcos Bagno no programa Observatório da imprensa da TV Brasil: http://www.youtube.com/watch?v=M4367cC9Cjo
que beleza de reflexão! em particular a conclusão que é mesmo nossa meta. Percebo que nosso projeto já colhe seus frutos na nova geração de professores que a UESB entregará ao país. Estou orgulhosa. Parabéns!
ResponderExcluirO texto está maravilhoooso Gal e contempla fielmente nossas indagações e estudos realizados no PIBID. Precisamos produzir mais textos e reflexões desse tipo com o propósito de desconstruirmos a ideia de que ensinar língua portuguesa seja ( somente) ensinar grámatica e vice-versa. Parabéns!!!
ResponderExcluirEdineia Azevedo
Obrigada Adriana e Nea.
ResponderExcluirConfesso que estou me apaixonando
ao estudar a língua.
bjs
esse texto me salvou para escrever o capítulo de livro
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