GRAMÁTICA
VARIAÇÃO E NORMAS
Sidineia
Moreira Santos
CALLOU,
Dinah (2007). Gramática,
variação e normas. In: SILVA & BRANDÃO.
Ensino de gramática -
descrição e uso. Rio de Janeiro: Contexto, 2007.
O texto de Dinah Callou “Gramática, variação e normas,”
publicado no livro “Ensino de Gramática – descrição e uso,”
pela editora Contexto no ano de 2007, faz uma abordagem crítica
acerca de questões inquietantes e recorrentes envolvendo gramática,
variações e normas.
A autora inicia seu texto elencando uma série de importantes
questionamentos envolvendo gramática, variação e normas,
argumentando com clareza que, não existem respostas definitivas
acerca dos questionamentos levantados.
Em seguida, a autora passa a teorizar enfaticamente sobre a crise e o
empobrecimento do ensino de língua e da aprendizagem de nossa
língua, esclarecendo que isso não diz respeito apenas à língua
portuguesa e não se restringe apenas ao Brasil.
Amparada no discurso de posse do gramático Celso Cunha á cadeira de
Português do Colégio Pedro II em novembro de 1952, a autora afirma
que, a preocupação com o ensino de língua vem de muito longe e
que, embora tenha decorrido mais de cinquenta anos do referido
discurso à situação ainda não se modificou. Sendo assim, a autora
afirma acertadamente que a crise no ensino de língua materna no
Brasil está relacionada a problemas de natureza socioeconômica,
sociocultural e pedagógica.
Debruçando-se inicialmente sobre os problemas de natureza
pedagógica, a autora questiona a formação docente nos cursos de
letras afirmando que estes constituem-se apenas como uma tentativa de
recuperação das deficiências do ensino fundamental e médio e
sugere que seja feita mudanças na formação dos docentes, nos
conteúdos e nos procedimentos de ensino de língua e, para isso, a
autora delega a universidade a criação de meios que possibilitem
aos futuros docentes a investigação da realidade linguística no
Brasil.
Continuando seu texto, a autora utiliza como suporte argumentativo um
artigo de João Ubaldo Ribeiro, publicado no jornal “o Globo” em
11/08/1985, intitulado “Questões gramaticais” e passa a analisar
as ambiguidades existentes no texto acerca do termo Gramática, e
afirma sabiamente que a gramática e a norma linguística podem ser
vistas por vários ângulos e aponta acertadamente que as várias
concepções de língua deram lugar a orientações e objetivos
pedagógicos diferenciados, não estando o objeto de estudo
claramente definido e não se pondo de acordo com linguistas no que
se refere a modalidade de uso que deve ser ensinada.
Ainda falando sobre normas, a autora faz alguns questionamentos sobre
que norma ensinar e, passa a tecer reflexões, alicerçada no
conceito de norma existente no “Dicionário de linguística”
(1978) de Matoso Câmara Junior, pontuando que ao trabalhar com a
norma lidamos com preconceitos de ordem socioeconômica e
sociocultural, enfatiza assim que há uma pluralidade de normas e
ressalta claramente a necessidade de uma reavaliação do lugar da
norma em nossa sociedade.
No parágrafo subsequente a autora afirma que a pluralidade de normas
existentes em nosso país é fruto da dinâmica populacional e do
contato com os diversos grupos étnicos em diferentes momentos
históricos e, tendo em vista essa heterogeneidade linguística a
autora contesta a ideia de se pensar língua em termos de certo X
errado, melhor X pior, bonita X feia.
Citando os trabalhos de Rona (1965); Rosenblat (1967) e Gagné
(1983), a autora exemplifica que os textos supracitados testemunham a
respeito da questão da norma e do ensino em outras línguas. E,
debruçando-se sobre o trabalho de Rona, Dinah afirma que a autora
aponta que nos países hispano-americanos, o ensino de língua está
baseado na linguagem literária extradiassistemática que, permite ao
aluno possuir dois sistemas linguísticos: um de nível mais baixo e
outro de nível acadêmico, mas ambos não corespondem ao uso culto
local.
Diante do exposto acima, Dinah defende veementemente a ideia de se
descrever as normas existentes em nosso país para que frente às
possibilidades da língua o falante possa escolher aquela que for
mais apropriada para se expressar em uma determinada situação
comunicativa. E, ao ressaltar os interesses dos sociolinguistas em
levar os resultados das suas pesquisar para a sala de aula, a autora
critica a postura de alguns grupos sociais e o seu excesso de
puritanismo em relação à língua e, em decorrência do caráter
reacionário da nossa sociedade e da escola, a autora adverte que a
inserção do resultado das pesquisas em sala de aula deve ser
tratada com cautela, no entanto, a autora defende uma atuação mais
agressiva e mais eficiente que garanta a eficácia no ensino de
língua.
Prosseguindo o texto, Dinah destaca o trabalho de Rosemblat que
atribui á noção de correção um caráter extralinguístico e
defende que, o ensino da variedade culta deve prevalecer sobre as
demais, uma vez que existe um ideal linguístico imposto por um
consenso social. Portanto, para Rosemblat é imprescindível que a
norma padrão seja ensinada aos alunos.
Em contrapartida a autora cita o trabalho de Gagné, que também faz
parte dessa coletânea organizada por Bédard (1938). No trabalho de
Gagné a autora debruça-se sobre dois pontos abordados pelo autor
que afirma que um dos objetivos do ensino de língua se situa nas
atitudes referentes à variação linguística e que o ensino pautado
numa orientação menos prescritiva não consegue evitar os
improvisos.
Ao fim da análise feita pela autora acerca dos estudos de Rona,
Rosemblat e Gagné e, respeitadas as especificidades de cada
trabalho, a autora salienta coerentemente que no ensino de língua o
que deve prevalecer é o bom senso, uma vez que a língua passa por
mudanças e que, a defesa de um purismo linguístico nada mais é que
um conhecimento deficiente da própria língua.
Assim, resaltado e respeitado a existência de uma multiplicidade de
normas existentes, a autora defende a ideia de que é impossível
manter uma norma purista no mundo atual e, demonstra que lidar com
língua é lidar com a variação e essa variação existe até
mesmo nos falares ditos cultos e adverte ainda que, a
homogeneização, por meio da escrita, busca neutralizar as marcas
identificadoras de cada grupo social para atingir um padrão único,
abstrato e idealizado.
Após essa breve discussão, Dinah passa a fazer uma reflexão
sucinta acerca do ensino e da constituição de normas no Brasil,
criticando que antes de 1981 ensinar significava aceitar o código e
transmiti-lo, no entanto, o código tornou-se algo tão diverso e
complexo que já não pode mais ser definido apenas pela legislação
mais antes pesquisado, avaliado e estudado.
No que
tange as pesquisas acerca da heterogeneidade linguística no Brasil,
a autora aponta projetos e trabalhos conclusos e em andamento, que
analisam corpora diferenciados e cita exemplos de tendências
existentes na língua, apontadas por essas pesquisas, que atestam
processos de mudanças ativos e que não podem ser bloqueados e
ignorados em nome de um ideal linguístico.
Segundo a autora um estudo prospectivo dos fatos linguísticos,
mostra que se pode recuar para o século XVIII ou avançar para o
século XIX, afirmando por meio de exemplos que, alguns usos que se
tornaram tão frequentes originaram-se da oralidade e passa a
demonstrar por meio de gráficos aspectos da nossa fala que
interferem na escrita como o uso do verbo ter por haver, afastando
assim o português do Brasil do português de Portugal.
Concluindo seu texto a autora afirma, aos professores de língua
materna, aos linguistas, aos estudantes de Letras e aos pedagogos,
que é utopia acreditar que o ensino de língua se dará em um
contexto de homogeneidade, e aponta que a tarefa da escola e do
professor é criar meios para que o aluno possa desenvolver sua
competência linguística, uma vez que ele já possui uma gramática
internalizada.
Sendo
assim a aula de português deve converter-se num momento de reflexão
sobre a língua, buscando fazer um exercício continuo de análise e
descrição da língua, para que o aluno venha a conhecer as
diferentes variedades linguísticas e possa conviver e interagir com
cada uma delas.
Cabe, portanto aos professores colocar os alunos em contato com os
diferentes tipos de textos sejam eles orais ou escritos para que
assim o aluno possa ter o domínio da modalidade de uso e da
modalidade culta da sua língua.
Boa resenha Sidineia... Parabéns!!
ResponderExcluirMuito Bom!
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